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BIODANÇA
Yoga e religião |
quinta-feira, maio 25, 2006 |
Cláudio Roberto Freire de Azevedo Religião é manter a mente aberta e desejosa de aprender.
"O contato da consciência humana e individual com o Divino é a verdadeira essência do Yoga". Sri Aurobindo (1872-1950) A palavra Yoga, que deriva da raiz yuj, significa unir ou religar, no sentido de ligar novamente o homem a algo essencial de seu ser, do qual era unido e que agora vive distante: é o matrimônio da matéria com o espírito. Não é à toa que a palavra religião tem o mesmo significado, pois deriva do latim religare, que significa religar. Da mesma forma, o sufismo considera o espírito humano como uma emanação do divino, ao qual se esforça por se reintegrar. Nesse ponto, pode-se afirmar que Yoga é uma forma de religião, mas no sentido de que há uma transmissão de conhecimentos, a criação de um código de uma conduta ética e uma prática espiritual. Entende-se por prática espiritual o ponto comum entre Yoga e qualquer religião: a idéia de que o homem pode desejar algo que lhe é infinitamente superior e que está além de si próprio, mas, paradoxalmente, profundamente imerso dentro de si mesmo. O Yoga, como todas as tradições sapienciais, é uma forma de ver o mundo (na literatura hindu existem seis formas de se ver o mundo – os seis darshanas (pontos de vista): Samkhya, Yoga, Vedanta, Mimansa, Nyaya e Vaisheshika), é o conhecimento da Religião-sabedoria e a sua prática, uma forma de transformação pessoal que exige prática constante a fim de que se consiga mergulhar em todos os níveis de realidade existentes, vencendo-as e vendo-as como ilusões, em direção ao Vazio Infinito (Brahman), a única Realidade. O Dharma (ensino provisório e ensino definitivo) Como todas as tradições sapienciais, o Yoga estuda a mente e faz com que o praticante investigue as causas de sofrimento: a teoria dos kleshas de Patañjali. Resumidamente, os kleshas (da raiz klish: o que causa dor) podem ser descritos como a falta de percepção das múltiplas realidades do mundo fenomenal (avidya) que leva à identificação pessoal com um falso "eu", o egocentrismo (asmita), com os desejos (raga – paixão – e dvesha – aversão) e com o apego à existência (abhinivesha). Para o budismo, a distinção entre o que é ilusório e o que é real é a solução para a extinção do sofrimento. O budismo tibetano ensina a descobrir o que não muda dentro do que muda. Tudo o que for impermanente não pode ser considerado real e não pode ser fonte de apegos. O mesmo dizia também Jesus, o Cristo (Mt 6:19s), quando nos orientou a buscar os tesouros do céu, pois os da terra estavam fadados à ferrugem e às traças. Nesse sentido, num ponto de vista filosófico mais profundo, até a mente humana, com seus turbilhões de pensamentos e emoções em constante surgimento e desaparecimento, é uma ilusão impermanente, que não deve ser fonte de apegos e deve ser cessada ou transcendida. Mas como afirmar que a nossa dor de cabeça é ilusória ou que uma topada não está doendo? E a dor da perda de uma paixão também é uma ilusão? Todas as tradições religiosas utilizam, para isso, ensinamentos conhecidos como provisórios, pois dizem respeito a coisas que não são reais. Esses ensinamentos nos ajudam a nos comportar no cotidiano, criar qualidades que na verdade também são provisórias. Precisamos ouvir falar do sofrimento, pois estamos imersos nessa pseudo-realidade. Os ensinamentos que dizem respeito à realidade última são os ensinamentos definitivos. Eles nos dizem que não somos seres sofredores, somos seres divinos que criam seu próprio sofrimento ilusório. Todo aparente paradoxo é apenas a diferença entre a visão limitada e a ilimitada (ensinamentos provisórios e definitivos). Somente aquele capaz de ver de cima, aquele que conhece os ensinamentos superiores, consegue entender os paradoxos, olhando de baixo ou olhando de cima. Mas aquele que não é capaz de ver de cima, imerso que está na materialidade, deve começar com os ensinamentos provisórios (visão convencional). Nos ensinamentos provisórios tomamos consciência de nosso estado de sofrimento como real e procuramos a causa, os mecanismos de seu surgimento que estão em nossos hábitos e em nossa visão da vida. Mas, para a grande maioria das mentes, até essa reflexão pode ser difícil. Então o ensinamento mais básico é feito de regras a serem seguidas, nem que seja por temor do castigo de algum deus fictício (deus castiga; aqui se faz, aqui se paga; etc) de forma que percamos velhos hábitos (ou tendências) e adquiramos novos hábitos. A todas as nossas tendências (positivas e negativas), as quais já nascemos com elas, as filosofias hindu e budista chamam de karma. Todas as tradições sapienciais têm essas regras, ditadas divinamente ou pelo fundador da doutrina. São orientações morais e éticas para o bom convívio em sociedade e consigo mesmo. São exemplos de ensinamentos provisórios o decálogo do judaísmo, os dez mandamentos do catolicismo, as cinco observâncias do islamismo, as dez ações não virtuosas e a prática das dez perfeições (paramitas) do budismo Vajrayana, e a disciplina (Yama) e a autodisciplina (Niyama) do Yoga Sutra. Até a regra de ouro da ética está presente em todas: "... amarás o teu próximo como a ti mesmo".
Trecho extraído do livro Yoga e as Tradições Sapienciais. © 2005 Órion. Todos os direitos reservados.
Cláudio é médico, cirurgião-geral, teósofo, escritor, professor na disciplina Medicina e Espiritualidade na Faculdade de Medicina da UFC - Universidade Federal do Ceará e jñana yogi residente em Fortaleza, CE. |
posted by iSygrun Woelundr @ 5:51 PM |
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